Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2021

au bonheur des dames 446

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Enquanto é possível

mcr, 3 -12-21

 

eu não percebo nada, rigorosamente nada, de saúde, muito menos dessa bicheza horrenda que no anda a desassossegar.  Todavia, a idade, alguma experiência e outro tanto de desconfiança nos poderes públicos, fazem-me antecipar a visita natalícia à Mãe centenária mas arguta.

Pelo sim pelo não é já este fim de semana que avanço até às paragens eventualmente mais clementes (meteorologicamente falando) de Oeiras.

Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e eu bem me lembro do natal passado e não estou para arriscar.

 

De longada até Lisboa, visita breve à feira dos alfarrabistas,  beijinhos e abraços à família e até Janeiro, esperando que tudo corra pelo melhor até lá.

O leitor JMM com quem havia uma vaga combinação de encontro, vai estar atento ao correio da próxima semana porquanto o livrinho que eu lhe levaria em mão seguirá aos inseguros cuidados dos CTT.

Eu nessa gente não me fio. Perdeu-se uma encomenda vinda de França (livros, claro...) e apesar das minhas reclamações, nada. Inventaram primeiro uma entrega a uma “elisabete” (sic) depois a outra com menos letras e com a pandemia a coisa desapareceu do radar. Portanto, o livro com todas as estampas da Enciclopédia ira registado. À cautela, e à boleia do blog, recomendo que me envie de novo a direcção pois comigo nunca é garantido que eu tenha a direcção à mão. Costumo guardar tão bem as coisas que depois só por abençoado acaso as encontro! 

E já que abusei da paciência dos leitores ao enviar correspondência privada por este meio, aproveito a deixa para tentar saber se um segundo leitor, interessado em bibliografia de temática moçambicana ronda por aí. É que tenho um forte lote de boletins da Sociedade de Estudos de Moçambique para lhe dar em troca de um mirífico 1º volume da História dos Caminhos de Ferro de Moçambique (para o que me havia de dar!...) . Também, neste caso, terei perdido o mail desse leitor

Na gigantesca e quase impossível tarefa de reorganizar a minha biblioteca, dar destino a livros repetidos, arranjar espaço para outros recentes u agora mais interessantes, tenho descoberto títulos de que, de todo, não me lembrava ou que considerava desaparecidos. Neste último caso, suspeito que alguma empregada no afã descabido de arrumar, limpar ou tornar mais agradável a vista das estantes,os terá colocado noutro sítio. Numa biblioteca organizada por tipo de literatura, ou autor e ordem alfabética basta mudar um livro de sítio para se passarem anos sem o encontrar. De outros igualmente desaparecidos  sem dar cavaco nem vale a pena falar: empréstimos a criaturas distraídas ou, pior, amigas do alheio, e eis que uma obra deixa de estar presente.

Também é verdade, neste ultimo caso que, um grande e desaparecido amigo tinha por hábito levar ( e restituir) montes de livros. Era, porém, alguém de seu natural desarrumado e a mulher ou a empregada passavam a vida a arrumar-lhe os pertences espalhados ao Deus dará. Alguns dos meus livrinhos andaram assim clandestinos nas estantes desse querido  companheiro de bridge desde Coimbra. Depois de morto, e durante alguns anos, a viúva aparecia com ar contristado com mais um livro encontrado. Ao todo ter-me-á entregue dez ou onze. Era o regresso do filho pródigo e permitia-nos a mim e à viúva conversar largas horas, chorar um pouco aquele alucinado leitor morto num ano  (o pior de que me lembro)em que perdi mais dois outros íntimos amigos.

À medida em que se envelhece tornam-se naturais estes desaparecimentos. Às tantas, olhando-nos ao espelho apercebemo-nos que somos meros sobreviventes, passeantes solitários num mundo que começa a tornar-se estranho e menos amável.

E a verificar a terrível verdade dos enterros: “agora só nos encontramos nestas ocasiões”,

costuma-se dizer. E, raios me partam, é verdade.

Entretanto, amigos a quem prometi entregar livros, estejam descansados que estes a que me referi tenho a firme intenção de cumprir a minha promessa... 

*a vinheta: imagem mandada pela Maria A, amiga de quem sou eternamente devedor

publicado por d'oliveira às 16:08
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Terça-feira, 12 de Julho de 2016

au bonheur des dames

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“Ai Portugal se fosses só três sílabas...”

 

Imagino que muitos dos meus leitores (se porventura ainda os tenho) se zangarão comigo. De facto, não comungo da alegria a rodos que campeia por aí. Não que esteja triste, furioso ou que desejasse outro campeão para a Europa. Simplesmente, entendo que houve outras ocasiões em que o nosso futebol e os nosso talento mereceriam mais do que hoje o lugar de campeão.

Todavia, o futebol é assim mesmo: nau incerta em mar proceloso. Desta feita, coube a Fernando Santos e à sua equipa a sorte que outras vezes foi esquiva. A carreira neste campeonato não foi exactamente brilhante: 3º lugar na primeira parte, nenhum jogo ganho nos 90 minutos regulamentares, mais sorte nos penáltis, adversários pouco perigosos, pese embora a surpresa islandesa.

De todo o modo, ganharam. E ganharam porque Santos foi corajoso, porque a equipa soube ser humilde, porque a defesa foi mais italiana do que os italianos. E porque houve uma mobilização extraordinária da emigração em França que deu uma lição de civismo (veja-se o caso do menino Matisse –belo e luminoso nome!- a consolar o choroso adepto francês e adulto –que soube corresponder com emoção e dignidade à palavra de uma criança de dez anos-), de amor ao país padrasto e longínquo e às terras pequenas e dispersas de onde os emigrantes ou os seus pais vieram fugidos da miséria e da falta de trabalho.

O resto, o Senhor Presidente, o Senhor 1º Ministro e os outros figurões, foi só folclore e populismo. O resto, televisões, rádio e jornais, foi lastimavelmente frouxo, reles, palavroso e patrioteiro. Como de costume.

Se os leitores, que até aqui chegaram, me permitem, direi que me entusiasmaram Rui Patrício, Pepe, Nani, Quaresma ou até Éder que resolveu tudo com um golaço que merecia mais repetições de visão televisiva. Sei que estou a ser injusto, que devia falar de outros, Renato Sanches ou os luso franceses que optaram por este pequeno país quando, provavelmente teriam lugar na selecção francesa que, de facto, teve pouca sorte. Mas o futebol, mesmo o feio, é isto: quantas vezes me irritaram os italianos e o catenaccio!

Entretanto, tudo isto está passado e a realidade, a desagradável realidade já volta a bater-nos à porta.

Só mais um ponto: nada tenho contra as medalhas mesmo se são atribuídas por quem ainda ontem afirmava que isto era um país demasiado medalhado. Mas o Senhor Presidente é o que é e não há uma eventual momento de populismo que não aproveite mesmo quando parece mais justificado o comendador jogador de futebol do que qualquer ex-primeiro ministro sem qualidades.

Por tudo o que vem de ser dito, atrevo-me a afirmar que o título do “Público” (“hoje temos mais razões para acreditar em Portugal”) é uma tolice, uma bazófia e um erro crasso. Não temos mais nem menos razões: o futebol é apenas ligeiramente menos seguro do que a roleta.

 

E passemos ao segundo acto deste comédia: o senhor Durão Barroso. Confesso que a criatura sempre me foi antipática desde os seus prodigiosos momentos MRPP, onde assumiu o papel de trauliteiro até à sua súbita conversão às virtudes do parlamentarismo, via PPD sob a intermediação de Santana Lopes. Barroso vestiu então a opa de sacristão mor que exercia de Ministro dos Negócios Estrangeiros e de proto-candidato à gloria primo-ministerial.

Quando o cavalheiro chegou a S. Bento, alguém o avisou sibilinamente, recitando “sigamos o cherne”. Poucos entenderam, porque poucos sabiam como o poema acabava:

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,


Já morto, boiar ao lume de água,


Nos olhos rasos de água,


Quando mentido o cherne a vida inteira,


Não somos mais que solidão e mágoa…

Barroso não era um cherne mas tão só a imagem dele, já morto. O acaso (se a tonta decisão de demissão de Guterres não foi mais do que isso) que o levou ao poder onde só produziu uma declaração útil mas não escutada (“o país está de tanga”) e a sua subsequente ida para a Comissão Europeia (onde só chegou porquanto os “grandes” o achavam incolor, insípido e inodoro como a água destilada) foram passos de uma biografia perdida há muito.

Que agora, a exemplo de tantos outros,   nacionais e estrangeiros, vá para um cadeirão onde pouco ou nada fará, já não acrescenta seja o que for ao que ele pensa que foi. Barroso, pese a sua publicitada inteligência e cultura, é apenas mais um portuguesinho espertalhaço, uma sardinha que se toma por um tubarão, um ambicioso que, como no poema, um dia destes dará à costa, picado pelas gaivotas e mais morto do que a sua reputação.

O terceiro passo está todo na notícia da restituição dos filhos a Liliana Melo, a senhora negra, emigrante e cabo-verdiana que,  há quatro anos ,viu um imenso aparato policial levar-lhe de casa as crianças. A Segurança Social e o Tribunal saem muito mal na fotografia, felizmente corrigida ao fim de quase 1500 dias por um acórdão do STJ. Relembre-se, sempre segundo o jornal, que boa parte das acusações contra Liliana não tinham fundamento (falta de emprego, higiene das crianças ou padeciam de insanável infâmia como era o caso de (à velha moda higienista e fascista) lhe exigirem a laqueação das trompas!

Isto sim, esta tardia sentença do tribunal superior é que é uma razão ponderosa para se acreditar mais em Portugal. Pena é que demorasse tanto tempo. E, já agora, mbravo e muito obrigado às advogadas que ao longo de todo este tempo, representaram “pro bono” uma mulher só, infamada, negra e humilde. Às vezes sabe bem ter concidadãos e concidadãs como estas Senhoras mesmo que ninguém as torne comendadoras ou sequer saiba da existência delas.

* O título e a citação pertencem a um grande, enorme, poeta português: Alexandre O’Neil

publicado por d'oliveira às 12:59
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Segunda-feira, 20 de Junho de 2016

au bonheur des dames 415

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A senhora Canavilhas com saudades dos processos de antigamente

 

Isto de uma criatura vir pedir (de modo “informal”, como depois corrigiu) o despedimento de uma jornalista tem antigos e medonhos antecedentes.

Nos anos trinta, consoante se vivesse no “Ocidente” ou na recente “União Soviética”, os que não liam pela cartilha do Komintern tinham duas hipóteses de pouco e mau futuro. Ou eram ridicularizados, atacados por toda a sorte de panfletos e abaixo-assinados ou, no caso soviético eram corridos dos empregos (solução clementíssima), enviados para campos de trabalho, julgados e condenados à morte em processos fantamasgóricos. Não era necessário ter feito qualquer coisa. Bastava não fazer, ter uma opinião dubitativa ou até ser amigo ou conhecido de alguém que teria emitido algum juízo crítico sobre a política da camarilha stalinista.

Ocorreque uma jornalista do “Público” noticiou que a manifestação a favor da Escola Pública teve números muito diferentes de participantes consoante a fonte era a Fenprof ou a PSP.

Este simples facto, apesentar dois números, exasperou a senhora Canavilhas que, à viva força, queria que só se noticiasse o número mais alto. Vai daí, perguntou-se numa rede social, porque é que a jornalista ainda tinha emprego.

Imaginemos que a pátria triste, e em bolandas, progredia no caminho da via única para o socialismo que alguns dos parceiros governamentais e os inocentes úteis, companheiros de estrada que se acotovelam no PS, parecem querer. A senhora Canavilhas poderia, por milagre ou azar nosso, acabar numa cadeira de Comissária do Povo, suponhamos para a Comunicação Social.

Que aconteceria, sempre nesta hipóteses alucinante, à jornalista relapsa que noticiou a manifestação? Ficaria desempregada? Iria por uns anos limpar de pedras a charneca alentejana? Hospeda-la-ia o Estado patrão de todos, em Caxias ou Peniche subitamente retornadas à sua inicial vocação de centros de férias para mal pensantes?

Não conheço (nem quero conhecer) a senhora Canavilhas de lado nenhum. Sei dela o que todos sabem que é pouco ou nada sobretudo nada se só tivermos em conta a sua triste passagem pela pasta da Cultura onde para parafrasear um cavalheiro de que celebramos o IVº Centenário,houve “muito ruído para nada”.

De vez em quando esta criatura Canavilhas reaparece nos soundbites da política politiqueira. Nada de grave, nada de substantivo, apenas uma ninharia que só existe por vir de uma antiga política. Não adianta nem atrasa, apenas chateia quando não diverte. Todavia, esta erupção twiterística revela que o espírito inquisitorial não morreu, antes reverdece quando a secura da descrição colide com a toleima da presunção.

A azougada senhora tentou posteriormente emendar a mão mas foi tarde e mal.

Quem traz uma má notícia é culpado. A notícia continua a mesma mas, à cautela, mata-se o mensageiro.

* a gravura representa uma manifestação bem mais divertida do que as nossas e a  "musa da manif" nada tem a ver com alguém de cá e, muito menos, com a senhora Canavilhas, coisa que, apesar de óbvia, convém ressaltar. 

publicado por d'oliveira às 10:42
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Quinta-feira, 7 de Abril de 2016

au bonheur des dames 415

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Sowinds, o esbofeteiro azougado

 

Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?

Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.

Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.

Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.

Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...

Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”

Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.

Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.

Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.

Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.

Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).

Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.

Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!

 

publicado por d'oliveira às 19:00
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au bonheur des dames 414

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Sowinds, o esbofeteiro azougado

 

Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?

Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.

Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.

Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.

Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...

Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”

Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.

Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.

Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.

Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.

Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).

Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.

Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!

 

publicado por d'oliveira às 18:57
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Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2015

au bonheur des dames 411

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Vai ser um fartote!

 

As leitoras (e os leitores, claro) que me desculpem: isto, ou seja a campanha que se aproxima, vai ser pior ainda do que a que passou. E vai por várias razões todas de peso. A Direita quer ver restabelecida nas urnas a sua vantagem relativa que, no caso, poderá até mostrar-se absoluta, depois da garraiada que se suscitou com o significado da votação popular.

A esquerda parte tão dividida como sempre ou até mais. Por um lado Maria de Belém Roseira, Henrique Neto e uma outra criatura subitamente aparecida, disputam o voto socialista e adjacente. O PCP, cumprindo uma tradição antiga surpreende ao apresentar um padre “defroqué” (a denominação vem dos tempos perturbados da Revolução Francesa e aplica-se aqui inteiramente) que esbraceja mais do que um moinho de vento em dia de tempestade. Lá iremos. O Bloco apresenta uma senhora que nos últimos anos tem sido deputada europeia (uma das vezes com o meu pobre voto) e que tem como actividade mais interessante uma longa carreira na luta contra a doença de Alzheimer (coisa que pessoalmente lhe agradeço profundamente quanto mais não fosse por ter um parente muito querido atingido por essa doença). Fora isso Marisa Matias é professora no CES e foi relatora de temas importantes no Parlamento Europeu.

Depois há uns quantos “espontâneos”, seguramente meritórios mas que dificilmente se farão ouvir ou sequer dar-se a conhecer. A corrida vai ser portanto entre Marcelo, Belém, Nóvoa, Neto, Marisa e o reverendo Edgar. Neste mano a mano a seis, o combate é Marcelo contra todos.

Todavia, convirá apontar que o candidato do PC tem trazido para a soturna luz do dia, um rosário de críticas ao PS que mostram bem o “estado da união” governativa. Aliás, ao que tenho visto, o PS e Marcelo são as únicas vítimas dos sermões do ex-paróco da Madeira. Ele (e os seus camaradas) lá sabe porquê e para quê. Edgar significa lanceiro que defende a sua terra e tem um santo com esse nome. Trata-se de um antigo rei proto-inglês que reinou no Wessex e se chegou a intitular “imperador de Albion”.

Este Edgar madeirense vai usando do chuço para derrear os lombos socialistas e, obviamente, Marcelo. Fora isso é um anónimo membro do CC do PC que nunca perde uma oportunidade de oiro como esta. Um padre mesmo despadrado no Comité central é uma bênção.

Maria de Belém a quem cheguei a dar o meu apoio (que retirei depois do pacto de Cacilhas estabelecido com o senhor Nóvoa) tem uma carreia toda ela na política depois de uns anos na Segurança Social. Sabe do que fala, é católica, tem um longo conhecimento nas áreas em que trabalhou, saúde, segurança social direitos da mulher, e é notoriamente inteligente. Por razões estapafúrdias, Costa prefere-lhe o subitamente nascido para a política Nóvoa, criatura que se perfilou em primeiro lugar conseguindo o surpreendente apoio de três ex-presidentes, vá lá saber-se por que misteriosas razões. A biografia que recentemente lhe dedicaram merecia a leitura de Eça de Queirós tão extraordinariamente ridícula que é. As vezes em que penosamente tive de o ouvir mostraram-me a vacuidade da criatura, o desconhecimento da política e pior do papel de Presidente da República. Não cometerei a desfeita de, como já corre, lhe chamar Sampaio da Nódoa mas convenho que o homem é pior do que as primeiras impressões. Que haja cerca de 10% de portugueses que eventualmente o apoiam mostram bem o estado a que isto chegou. Henrique Neto tem passado político e profissional. Foi do PC quando isso era um risco e um acto de coragem, trabalhou duramente para criar uma fábrica modelar, foi deputado do PS capaz de dizer, no plenário e fora dele, verdades que arrasavam amigos e inimigos, tem ideias claras sobre economia. Sobretudo, ninguém o pode acusar de ter vivido à custa do erário público, bem pelo contrário: criou riqueza, empregos e pôs o país na linha da frente da indústria de moldes. Terá o meu voto.

Finalmente Marcelo.

Ninguém de bom senso nega a este professor catedrático de Direito inteligência e desenvoltura. Também ninguém desconhece o feitio traquinas e a mania das habilidades que o fizeram famoso dentro e fora do PPD. Criador de factos políticos e jornalista astuto e convincente, a sua história está ligada à ala social democrata do partido ou, até e melhor, à sua ala democrata cristã. Marcelo é um católico assumido, tem fama de pessoa despojada: não possui casa nem carro (?), viveu sempre do seu trabalho de professor e sobretudo do chorudo ordenado que a televisão privada lhe pagou pela tarefa de comentador político (tal como Pacheco Pereira, por exemplo) que levou a cabo com grande eficiência e notável clareza de exposição: o “professor” conseguia explicar as coisas mais complicadas com simplicidade, algum humor e uma enorme empatia com o público. Só isso merecia ser muito bem pago. Nunca teve, nem terá (salvo se Jesus descer à terra) o meu voto mas também é verdade que não precisa dele. Há pouco mais de dois anos, apostei contra quatro amigos uma almoçarada de lampreia –vejam bem o risco!- que ele ganharia as eleições e apostei o preço do vinho que seria à primeira volta. Encargo pesado que assumi sem estados de alma. Uma coisa é não gostarmos da pessoa, outra é entrar em estado de negação.

Graças à tola campanha de todos contra Marcelo, este cada vez mais se evidencia e ganha apoio. Se alguém o não conhecia passou a conhecê-lo. Depois, queira ou não, o esforçado Rui Tavares comentador do “Público”, a campanha barata de Marcelo fez mossa nas outras. Se é verdade que não precisa de se apresentar, não menos verdade é que Belém Roseira ou Marisa Matias gozaram pelo facto de serem personalidades públicas de uma intensa pré-pré campanha nos media enquanto Sampaio da Nóvoa justamente porque era novidade teve idêntica sorte. No caso dele, o excepcional e surpreendente apoio de Eanes, Soares e Sampaio, expresso há meses foi igualmente importante. No que toca ao candidato comunista, ser ou não conhecido é igual ao litro. O homem terá, se for às urnas, o voto unânime, ou quase, dos simpatizantes comunistas. Se estes candidatassem o lince da Malcata o resultado era o mesmo. A virtude ou defeito do eleitorado comunista é que este vota como lhe indica o partido. Sem ilusões nem estados de ânimo. (“Assim se vê a força do pc!”).

 

Até ao momento, os candidatos tem opinado sobre tudo ou quase. Sempre com uma correcção política que dói! E, até nesse capítulo, Marcelo sobressai: na sua calculada estratégia de mostrar independência, até consegue dar a mão a Costa. Para melhor a apertar duramente depois? É possível mas basta ver o comentário de desagrado de alguma Direita, para perceber que, ao contrário dos outros candidatos, Marcelo doseia elogios e críticas como nos seus melhores tempos de televisão. E com uma outra vantagem: não responde às críticas dos restantes concorrentes, coisa que os deve enfurecer mas que faz o público sorrir e repara neste católico que quase oferece a outra face.

É evidente que tudo isto é uma calculada e longamente meditada actuação que poderá encobrir uma fúria interior prodigiosa. De todo o modo, para quem assiste ao despique, também isto corre de feição para o candidato Marcelo.

Convirá, porém, realçar que nestas últimas semanas, os candidatos de motu próprio ou por desafio de entrevistadores analfabetos, têm falado de tudo sobretudo, até, de assuntos que nada têm a ver com o cargo que irão disputar. Dir-se-á que os eleitores querem conhecê-los melhor. No entanto, conhecer melhor não é saber pela rama o que pensam suas futuras excelências sobre a questão da queda dos preços da carne de porco ou sobre a falta de médicos ao fim de semana no hospital de S José. Neste caso, aliás, não vi uma única criatura perguntar se a doença em apreço é rara ou não, se o pagamento proposto aos médicos era decente ou não (fala-se de 3 euros à hora...) ou porque razão em Coimbra e no Porto não ocorreram casos fatais visto haver médicos especialistas nessas escalas. Sendo assim, falar na degradação do SNS é uma imbecilidade medonha: o que, eventualmente, se passará é apenas uma miserável falta de organização que deve apenas responsabilizar a administração do hospital ou a ARS de Lisboa cujos responsáveis de resto se demitiram. Por outras palavras: estas mortes foram instrumentalizadas politicamente e nenhuma das respostas adrede manifestadas toca o problema de fundo. Portugal, ao contrário do que algum tolo dirá, tem um extraordinário sistema nacional de saúde e estará num dos dez melhores lugares do mundo. Pode melhorar? Claro que sim e sobretudo em campos que irão exigir fortíssimos investimentos. A questão é saber se se deve realizar tal esforço ou se não é mais eficaz e muitíssimo menos oneroso para a fraca bolsa dos parcos contribuintes portugueses criar acordos internacionais que permitam aos pacientes portugueses (que serão relativamente escassos) recorrer a serviços hospitalares estrangeiros onde o rácio habitante/serviço de saúde permite abordar a situação com êxito e menor preço. Afinal, estamos ou não na União Europeia?

 

Era sobre questões deste teor que convinha (também) ouvir os senhores “presidenciáveis”. Ou seja: onde estamos? Como estamos? Para onde vamos?

Estamos a dois dias do fim do ano. Eis um voto para o próximo: mais verdade. Mais rigor! Menos conversa de chacha! Mais exigência. Mudar de vida! Mudar a vida!

Afinal são seis os meus pedidos e pelo menos dois deles bebidos directamente no surrealismo que foi uma coisa muito séria e uma aventura que há cem anos presenciávamos de longe, mesmo que, por cá, tivesse havido um meteoro chamado “Orpheu”. Mas isso era “futurismo” e o que por cá actualmente se passa é passado, demasiado passado.

Bom ano!

publicado por d'oliveira às 11:58
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au bonheur des dames 411

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Vai ser um fartote!

 

As leitoras (e os leitores, claro) que me desculpem: isto, ou seja a campanha que se aproxima, vai ser pior ainda do que a que passou. E vai por várias razões todas de peso. A Direita quer ver restabelecida nas urnas a sua vantagem relativa que, no caso, poderá até mostrar-se absoluta, depois da garraiada que se suscitou com o significado da votação popular.

A esquerda parte tão dividida como sempre ou até mais. Por um lado Maria de Belém Roseira, Henrique Neto e uma outra criatura subitamente aparecida, disputam o voto socialista e adjacente. O PCP, cumprindo uma tradição antiga surpreende ao apresentar um padre “defroqué” (a denominação vem dos tempos perturbados da Revolução Francesa e aplica-se aqui inteiramente) que esbraceja mais do que um moinho de vento em dia de tempestade. Lá iremos. O Bloco apresenta uma senhora que nos últimos anos tem sido deputada europeia (uma das vezes com o meu pobre voto) e que tem como actividade mais interessante uma longa carreira na luta contra a doença de Alzheimer (coisa que pessoalmente lhe agradeço profundamente quanto mais não fosse por ter um parente muito querido atingido por essa doença). Fora isso Marisa Matias é professora no CES e foi relatora de temas importantes no Parlamento Europeu.

Depois há uns quantos “espontâneos”, seguramente meritórios mas que dificilmente se farão ouvir ou sequer dar-se a conhecer. A corrida vai ser portanto entre Marcelo, Belém, Nóvoa, Neto, Marisa e o reverendo Edgar. Neste mano a mano a seis, o combate é Marcelo contra todos.

Todavia, convirá apontar que o candidato do PC tem trazido para a soturna luz do dia, um rosário de críticas ao PS que mostram bem o “estado da união” governativa. Aliás, ao que tenho visto, o PS e Marcelo são as únicas vítimas dos sermões do ex-paróco da Madeira. Ele (e os seus camaradas) lá sabe porquê e para quê. Edgar significa lanceiro que defende a sua terra e tem um santo com esse nome. Trata-se de um antigo rei proto-inglês que reinou no Wessex e se chegou a intitular “imperador de Albion”.

Este Edgar madeirense vai usando do chuço para derrear os lombos socialistas e, obviamente, Marcelo. Fora isso é um anónimo membro do CC do PC que nunca perde uma oportunidade de oiro como esta. Um padre mesmo despadrado no Comité central é uma bênção.

Maria de Belém a quem cheguei a dar o meu apoio (que retirei depois do pacto de Cacilhas estabelecido com o senhor Nóvoa) tem uma carreia toda ela na política depois de uns anos na Segurança Social. Sabe do que fala, é católica, tem um longo conhecimento nas áreas em que trabalhou, saúde, segurança social direitos da mulher, e é notoriamente inteligente. Por razões estapafúrdias, Costa prefere-lhe o subitamente nascido para a política Nóvoa, criatura que se perfilou em primeiro lugar conseguindo o surpreendente apoio de três ex-presidentes, vá lá saber-se por que misteriosas razões. A biografia que recentemente lhe dedicaram merecia a leitura de Eça de Queirós tão extraordinariamente ridícula que é. As vezes em que penosamente tive de o ouvir mostraram-me a vacuidade da criatura, o desconhecimento da política e pior do papel de Presidente da República. Não cometerei a desfeita de, como já corre, lhe chamar Sampaio da Nódoa mas convenho que o homem é pior do que as primeiras impressões. Que haja cerca de 10% de portugueses que eventualmente o apoiam mostram bem o estado a que isto chegou. Henrique Neto tem passado político e profissional. Foi do PC quando isso era um risco e um acto de coragem, trabalhou duramente para criar uma fábrica modelar, foi deputado do PS capaz de dizer, no plenário e fora dele, verdades que arrasavam amigos e inimigos, tem ideias claras sobre economia. Sobretudo, ninguém o pode acusar de ter vivido à custa do erário público, bem pelo contrário: criou riqueza, empregos e pôs o país na linha da frente da indústria de moldes. Terá o meu voto.

Finalmente Marcelo.

Ninguém de bom senso nega a este professor catedrático de Direito inteligência e desenvoltura. Também ninguém desconhece o feitio traquinas e a mania das habilidades que o fizeram famoso dentro e fora do PPD. Criador de factos políticos e jornalista astuto e convincente, a sua história está ligada à ala social democrata do partido ou, até e melhor, à sua ala democrata cristã. Marcelo é um católico assumido, tem fama de pessoa despojada: não possui casa nem carro (?), viveu sempre do seu trabalho de professor e sobretudo do chorudo ordenado que a televisão privada lhe pagou pela tarefa de comentador político (tal como Pacheco Pereira, por exemplo) que levou a cabo com grande eficiência e notável clareza de exposição: o “professor” conseguia explicar as coisas mais complicadas com simplicidade, algum humor e uma enorme empatia com o público. Só isso merecia ser muito bem pago. Nunca teve, nem terá (salvo se Jesus descer à terra) o meu voto mas também é verdade que não precisa dele. Há pouco mais de dois anos, apostei contra quatro amigos uma almoçarada de lampreia –vejam bem o risco!- que ele ganharia as eleições e apostei o preço do vinho que seria à primeira volta. Encargo pesado que assumi sem estados de alma. Uma coisa é não gostarmos da pessoa, outra é entrar em estado de negação.

Graças à tola campanha de todos contra Marcelo, este cada vez mais se evidencia e ganha apoio. Se alguém o não conhecia passou a conhecê-lo. Depois, queira ou não, o esforçado Rui Tavares comentador do “Público”, a campanha barata de Marcelo fez mossa nas outras. Se é verdade que não precisa de se apresentar, não menos verdade é que Belém Roseira ou Marisa Matias gozaram pelo facto de serem personalidades públicas de uma intensa pré-pré campanha nos media enquanto Sampaio da Nóvoa justamente porque era novidade teve idêntica sorte. No caso dele, o excepcional e surpreendente apoio de Eanes, Soares e Sampaio, expresso há meses foi igualmente importante. No que toca ao candidato comunista, ser ou não conhecido é igual ao litro. O homem terá, se for às urnas, o voto unânime, ou quase, dos simpatizantes comunistas. Se estes candidatassem o lince da Malcata o resultado era o mesmo. A virtude ou defeito do eleitorado comunista é que este vota como lhe indica o partido. Sem ilusões nem estados de ânimo. (“Assim se vê a força do pc!”).

 

Até ao momento, os candidatos tem opinado sobre tudo ou quase. Sempre com uma correcção política que dói! E, até nesse capítulo, Marcelo sobressai: na sua calculada estratégia de mostrar independência, até consegue dar a mão a Costa. Para melhor a apertar duramente depois? É possível mas basta ver o comentário de desagrado de alguma Direita, para perceber que, ao contrário dos outros candidatos, Marcelo doseia elogios e críticas como nos seus melhores tempos de televisão. E com uma outra vantagem: não responde às críticas dos restantes concorrentes, coisa que os deve enfurecer mas que faz o público sorrir e repara neste católico que quase oferece a outra face.

É evidente que tudo isto é uma calculada e longamente meditada actuação que poderá encobrir uma fúria interior prodigiosa. De todo o modo, para quem assiste ao despique, também isto corre de feição para o candidato Marcelo.

Convirá, porém, realçar que nestas últimas semanas, os candidatos de motu próprio ou por desafio de entrevistadores analfabetos, têm falado de tudo sobretudo, até, de assuntos que nada têm a ver com o cargo que irão disputar. Dir-se-á que os eleitores querem conhecê-los melhor. No entanto, conhecer melhor não é saber pela rama o que pensam suas futuras excelências sobre a questão da queda dos preços da carne de porco ou sobre a falta de médicos ao fim de semana no hospital de S José. Neste caso, aliás, não vi uma única criatura perguntar se a doença em apreço é rara ou não, se o pagamento proposto aos médicos era decente ou não (fala-se de 3 euros à hora...) ou porque razão em Coimbra e no Porto não ocorreram casos fatais visto haver médicos especialistas nessas escalas. Sendo assim, falar na degradação do SNS é uma imbecilidade medonha: o que, eventualmente, se passará é apenas uma miserável falta de organização que deve apenas responsabilizar a administração do hospital ou a ARS de Lisboa cujos responsáveis de resto se demitiram. Por outras palavras: estas mortes foram instrumentalizadas politicamente e nenhuma das respostas adrede manifestadas toca o problema de fundo. Portugal, ao contrário do que algum tolo dirá, tem um extraordinário sistema nacional de saúde e estará num dos dez melhores lugares do mundo. Pode melhorar? Claro que sim e sobretudo em campos que irão exigir fortíssimos investimentos. A questão é saber se se deve realizar tal esforço ou se não é mais eficaz e muitíssimo menos oneroso para a fraca bolsa dos parcos contribuintes portugueses criar acordos internacionais que permitam aos pacientes portugueses (que serão relativamente escassos) recorrer a serviços hospitalares estrangeiros onde o rácio habitante/serviço de saúde permite abordar a situação com êxito e menor preço. Afinal, estamos ou não na União Europeia?

 

Era sobre questões deste teor que convinha (também) ouvir os senhores “presidenciáveis”. Ou seja: onde estamos? Como estamos? Para onde vamos?

Estamos a dois dias do fim do ano. Eis um voto para o próximo: mais verdade. Mais rigor! Menos conversa de chacha! Mais exigência. Mudar de vida! Mudar a vida!

Afinal são seis os meus pedidos e pelo menos dois deles bebidos directamente no surrealismo que foi uma coisa muito séria e uma aventura que há cem anos presenciávamos de longe, mesmo que, por cá, tivesse havido um meteoro chamado “Orpheu”. Mas isso era “futurismo” e o que por cá actualmente se passa é passado, demasiado passado.

Bom ano!

*a imagem é e uma obra de Matisse. Sem ele a arte modernaseria bem diferente e quase de certeza menos imaginativa, colorida e inteligente. Há cem anos era uma das maiores referências da pintura francesa e universal.

publicado por d'oliveira às 11:50
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Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015

au bonheur des dames 410

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É só fumaça

ou o povo é sereno

 

Com a natural e mais que esperada queda do governo, parece que as ruas se encheram de multidões festejadoras. Bom, multidões é exagero. Aquilo era uma esquálida manifestação de quadros da CGTP que, à falta de imaginação gritava a plenos pulmões o estafado slogan “o povo unido jamais será vencido” de saudosa memória.

Já agora, dois reparos: a tradução ideal de jamás é nunca mesmo se o jamais não destoe inteiramente. Só que ninguém diz correntemente “jamais”. Ou melhor, houve um senhor ministro socialista do glorioso governo de Sócrates (o José e não o ateniense) que negava a hipóteses de um malfadado aeroporto ir para o sul do Tejo ululando em francês mal pronunciado “jamais”. Passou célere à história e confesso que nem do nome da criatura me lembro.

Recordo-me, todavia, do “povo unido jamais será vencido”, slogan crescentemente gritado no Chile enquanto a Esquerda ia fenecendo e a Direita arreganhava os dentes. Depois, foi o que se viu, um horror, um massacre que nem a patética aparição de Allende de capacete e metralhadora na mão pode esconjurar.

Como de costume, e por facilidade, toda a gente resolveu a coisa atirando para a militaragem todas as culpas. Que aqueles generais, coronéis, capitães, sargentos e soldados eram uns bandidos não duvido, bem pelo contrário. Que a Direita civil rejubilou e aproveitou é uma evidência. Que vários bem intencionados líderes da Esquerda deitaram azeite no lume, também não. No Chile, país considerado civilizado e constitucional, já houvera antes um forte ataque à Esquerda (e Neruda bem que se exilou) que deixara as suas marcas. Como de costume, a lição não foi aproveitada.

No entanto, o patético apelo à unidade do Povo que soou nas ruas das maiores cidades chilenas era desgarrador. Soava a queixa, a medo e destino. E foi.

Em Portugal, o do PREC de, pelos vistos, saudosa memória, também uma auto-intitulada Esquerda andou pelas ruas no mesmo rodopio, sonhando com a tomada do Palácio de Inverno e com a instauração de um qualquer ersatz do soviet. Alguns militares, tão tolos quanto ignorantes tomaram-se pelos marinheiros de Kronstadt antes deste ter sido subjugado por Trotsky. Outros viam-se como “comandantes en la Sierra Maestra” a tourear Baptista. Curiosamente não perceberam que tinham chegado tarde, que o Che já morrera e que Fidel era apenas mais um tiranete tropical.

Que, quarenta anos, depois o slogan volte à baila faz-me pensar que há gente que não esqueceu nada e que, também, nada aprendeu.

Com uma diferença: a história não se repete ou se isso acontece é sempre em tom de farsa, e no caso em apreço de revista à portuguesa no parque Mayer chungoso da nossa política doméstica.

Mas tudo isto não passa de mera fumaça. Razão tinha o tão, e tão injustamente, criticado Pinheiro de Azevedo.

Mas deixemos o slogan pobre antes que reapareça (e vai reaparecer, claro) “a gaivota que voava, voava...” e passemos à pérolas do mês:

Uma senhora promovida a governante resolveu escrever censura com s no início. Está no seu pleno direito à iliteracia e ao novo acordo ortográfico. Não vale é depois vir argumentar que é disléxica.

Outra, desta feita ex-governante, em vez de escrever “à Direita” entendeu que ficava melhor antepor-lhe um H ( Direita.. aconteceu...). É sempre bom ver conjugar o verbo haver com leveza, liberdade e estilo mas, pergunto-me, que mal é que os verbos fizeram à criatura que lança tais canas ao ar (ou será “lansa” hao har?)

Um cavalheiro que prova à evidência que não basta ser filho de alguém para também se ser alguém, que ficou conhecido por presidir no longe do tempo a uma anedota chamada “grupo autónomo do partido socialista” (autónomo de quê, porquê, como e para quê?) que conseguiu perder uma Câmara que só por engano popular ganhara e que finalmente, se envolveu e indirectamente envolveu Portugal no atoleiro da guerra civil angolana ao tomar partido por Jonas Savimbi, ex-colaborador do exército português, foi à (ou há?) TV dizer meia dúzia de banalidades confrangedoras. Dentre elas esta “O caminho faz-se caminhando como dizia um brasileiro”. Conviria explicar a este novo luminar da cultura pátria que tal citação remete directamente para António Machado, poeta espanhol, republicano e democrata morto no exílio depois de abandonar, velho e doente, Espanha.

A menos que quisesse citar Carlos Drumond de Andrade, esse sim brasileiro, que deixou o famoso “no meio do caminho tinha uma pedra...” se bem que me custe acreditar em tanto conhecimento poético.

Pelo rolar da carruagem temo bem que a criatura se estatele no meio do caminho que se propõe andar. Convenhamos que seria uma vingança poética extraordinária.

Apetecia-me terminar citando alguém que ao longo destes anos todos nunca se coibiu de falar, comentar, aconselhar, criticar e aparecer. Há mais de um mês que guarda um silêncio tumular. Como se tivesse morrido ou, pior, que estivesse tolhido por qualquer misteriosa razão. E para mistérios já nos bastam os do rosário que serão vinte entre dolorosos, gozosos, luminosos e já não sei que mais...

Ámen!

Laus Deo!

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Quarta-feira, 27 de Maio de 2015

Au bonheur des dames 408

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Como água destilada

 

Se ainda me lembro dos tempos da escola primária de Buarcos, havia uma água quimicamente pura que era inodora, insípida e incolor. É uma água “fabricada” já não sei para que fins que não sejam as baterias dos automóveis. E as baterias, em si, são pouco, quase nada, mesmo, se sem elas, o veículo não ande.

Ora esta imagem antiga dessa água sem préstimo para quem tem sede, sem utilidade para quem quer lavar-se, desconhecida na natureza pelo nem para um mergulho refrescante dá, lembra-me irresistivelmente a candidatura do senhor Professor Doutor Sampaio da Nóvoa.

Não tenho qualquer dúvida que se tratará de um cavalheiro com imensas qualidades morais, um profissional sério, um cidadão escrupuloso que pagará atempadamente os seus impostos, dará lugar no autocarro a senhoras e a pessoas com algum problema físico.

Também não duvido que, no seu circulo de amigos, com a família ou com algum colega, o referido senhor terá opinado sobre a política nacional ou internacional, máxime sobre as tricas locais lisboetas ou, enfim, os formidáveis problemas da educação nacional.

Finalmente, sei bem que, legalmente, pouco é preciso para um cidadão português se candidatar a Presidente da República. Se tiver a idade necessária, souber ler e escrever (o que não é assim tão fácil) e houver uns milhares de cidadãos que atestem confiar nele para tão alta tarefa, qualquer quiddam pode apresentar-se à sociedade e proclamar o seu absoluto amor à pátria, a sua vontade de devotamente servir os portugueses e o país e a sua aceitação de viver naquele horrendo palácio nos arredores dos pastéis de Belém.

Todavia, vá lá saber-se porquê, entre nós, o cargo tem assumido uma importância de proporções inimagináveis. Nem o Dr Soares, a cavalgar nobremente uma tartaruga, ou Professor Doutor Cavaco Silva a trepar virilmente um coqueiro, conseguiram deitar abaixo o mito do “Presidente”. Já nos tempos da velha Senhora, o sr almirante Américo Thomaz (assim mesmo) não conseguia, com os seus extraordinários discursos e o embaraçoso olhar baixo com que caminhava (por isso lhe chamaram “Mira carpetes”), derrubar o respeito com que se encarava o “Venerando” Chefe de Estado.

Por junto, e que me lembre, só uma vez um grupo de rapazolas “mal educados” e manejados “por ínvios interesses” se atreveram, em Coimbra, no malfadado ano de 1969 e no dia 17 de Abril, a brindar S.ª Ex.ª com uma surriada.

Disso me penitencio suavemente, tantos anos depois. Ou nem por isso, convenhamos. Canhoto de natureza e de vocação, confesso que, na altura, a coisa  me seduziu e me levou a colaborar no incidente. Paguei o atrevimento com uns largos tempos de masmorra nos cafundós do Palácio da Justiça de Coimbra, às ordens de um juiz de instrução ao serviço da PJ, alegremente denunciado (em todos os vinte e tal volumes do processo organizado pelas autoridades) por vários rapazes que tinham mais garganta que estofo para aguentar uma escassa semana de prisão... Vê-se (ou via-se...) que o “Se fores preso camarada...” podia ser lido mas, regra geral, não era aplicado.

Mas tudo isto me desviou do acontecimento do mês: a anunciada candidatura do senhor Pr. Dr. Sampaio da Nóvoa.

Um grupo de amigas que se reúnem quase diariamente numa esplanada lisboeta que, de longe em longe, me acolhem amavelmente já me tinha prevenido quanto à emergência da criatura. Sempre atrevidas, sempre esperançadas, todas elas tinham acorrido às varias reuniões, convenções, sessões onde as mesmas pequenas multidões se davam ao gozoso mistério de provocar o inerme Governo da pátria naufragada. Foram elas as primeiras a comentar, jocosa e impudentemente, as ambições da personagem Nóvoa.

Embora eu tenha ficado com a impressão que elas não levavam muito a sério o senhor ex-reitor, a verdade é que me despertaram a atenção. Tentei afincadamente recordar a criatura que, pensava eu, havia de ter feito algo durante estes últimos quarenta anos para entrar assim na nebulosa dos candidatos à Presidência da República. Esta função não é uma espécie de moinho da Joana onde entra quem quer, que diabo! Pese embora ao agora desempregado dr Alberto João, isto ainda não é exactamente uma república bananeira mesmo se para lá pareçamos caminhar.

Convém, penso, que os candidatos à (assim chamada) mais alta magistratura tenham um pingo de passado, de biografia política, de reconhecimento público da sua intervenção cívica e política.

Ora, o doutor (por extenso) Sampaio da Nóvoa é, nestes meios, um absoluto desconhecido. E é-o de tal forma, que ainda há bem pouco, um dos seus auto-proclamados capatazes políticos veio à televisão dizer isso mesmo em tom de desafio, elogiando a especial virgindade política do cavalheiro em causa como uma virtude.

Eu, sobre virgindades, basto-me com a frase célebre de um doutor da Igreja ou algo do mesmo género e espécie, que durante a grande polémica medieval sobre a virgindade de Maria, afirmava que esta “fora virgem antes, durante e depois do parto de Jesus”!

Ora, que se saiba, o candidato SN não é a Senhora de Fátima nem mesmo aquela vaga “santinha da ladeira” que há um par de anos amotinou umas centenas de curiosos proclamando-se vidente (e virgem, claro). O Dr Nóvoa gasta barba bem aparada e tem todo o ar de já ter experimentado as delícias do sexo. Ainda bem para ele, aliás, que, ao menos nesse ponto, conhece alguma realidade portuguesa.

Todavia, sufoca-me uma pergunta: como é que três dos ex-Presidentes da República (aliás os únicos ainda vivos) se juntam quais três reis magos à cabeceira do candidato, na hora do seu nascimento político? Não são só eles, claro, nem sei se a eles cabe a tarefa de trazer o oiro, o incenso e a mirra, pois no quadro idílico de Belém ainda faltam umas quantas personagens entre os quais o casal parental, o burro e a vaquinha. Só depois de se encontrarem quatro criaturas presentes no momento do primeiro vagido é que se distribuirão definitivamente os papéis a cada um.

Entretanto, vejamos o que unirá estas três criaturas (Sampaio, Eanes e Soares) e o que unirá o trio a SN. Não o sangue político porquanto Nóvoa quanto a esse elemento líquido parece mais predisposto a trazer na circulação uma espécie desbotada de salsaparrilha, coisa muito indicada para a infância mas absolutamente deslocada na arena política. Muito menos a prática política porquanto Eanes só nasceu para a política em Novembro de 75 enquanto os outros dois aprenderam logo nos primeiros anos de faculdade o quanto doíam as bastonadas da polícia. Os moços Jorge e Mário eram já civis, paisanos sem remédio, enquanto o austero António fazia a aprendizagem das armas. Dir-se-ia (agora é fácil afirmá-lo) que Soares e Sampaio estavam predestinados a um lugar na República enquanto o militar, porventura devido à reserva que se impõe à “grande muette”, apenas sonharia com um eventual generalato.

Eppure... , eis que os três, quais fadas madrinhas, se encontram, como velhos mosqueteiros, a guardar as costas de Nóvoa. Entretanto o “afilhado” vai dedilhando umas vagas modinhas em que ressoam, murchos, alguns versos de Sofia, duas trovas de José Afonso ou Sérgio Godinho. Como esteio intelectual, mesmo que as referências mereçam respeito, a coisa cheira a pouco, a fabricado, a nariz de cera, a lugar comum. Citar três ícones democráticos pode apenas ser mais uma conta do rosário maquinal com que se começam as novenas de Maio. Nada mais.

Depois, Nóvoa, sempre no campeonato do já ouvido, afirma coisas tremendas como se em vez de Presidente da República se estivesse a candidatar a Primeiro Ministro. Bem sei que, ainda em tempos de Cavaco Silva, dá jeito arrear no actual PR que leva o seu papel a um escasso intervencionismo. Todavia, Cavaco vai embora daqui a meses (que vão parecer anos...) e não está em liça com Nóvoa. E ainda bem para este, porquanto, no que toca a políticas primeiro-ministeriais, Cavaco poderia ensinar-lhe mais do que alguma vez ele aprenderá.

Eu estou em crer que alguém anda por aí a pregar partidas aos portugueses. Já agora, terá pensado, porque não vender-lhes um PR inteiramente saído do nada?

Do nada político, entenda-se. É que Sampaio ou Soares, aos vinte anos, já tinham feito mais política do que Nóvoa aos sessenta.

Retiremos pois estes dois de cena e fiquemos com Eanes. Em que é que Nóvoa se lhe aparentará? Tudo parece separá-los mesmo se, a proto-candidatura de SN pareça vir nimbada de sebastianismo (outra velha pecha nacional) e que, nesse campo, se possa recordar a famosa cruzada feita em nome de Eanes para criar um novo partido e depois uma nova política. Dessa aventura pouco exaltante, restam algumas anedotas, alguns fracassos, muitos órfãos políticos e a memorável campanha da drª Manuela Eanes que percorreu o país como uma espécie doméstica e comezinha de Dolores Ibarruri urbana que maternalmente falasse o povo miúdo e ordeiro. Felizmente, a senhora deixou cair essa faceta comicieira e agora faz excelente trabalho no amparo às crianças. Talvez seja este o único aspecto positivo da operação “renovadora”.

Sampaio da Nóvoa, extraído dos nevoeiros de Alcácer Quibir, ou da Troikaland, como salvador da pátria? Mesmo com todos os defeitos que temos, e são muitos, acho que não merecemos tal sorte.

 

 

 

 

publicado por d'oliveira às 11:42
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Terça-feira, 28 de Abril de 2015

Au bonheur des dames 406

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Stalin está vivo no coraçãozinho da srª Medeiros

(ou a mãe, o filho e o espírito santo beatificado)

 

Estava a bela Inês em seu desassossego desesperada por aparecer nos noticiários televisivos. Vai daí entendeu cozinhar um acordo à custa dos meios noticiosos de modo a permitir excluir alguns partidos menores e dar uma gigantesca cobertura eleitoral a outros. Aos do costume!

Tudo isto ao que parece, dadas as declarações de Costa, Coelho e Portas, foi preparado em encontros secretos entre um par de cavalheiros e damas deputados, sempre sob iniciativa da senhora actriz e realizadora Inês de Medeiros a quem devemos obras primas que fariam Oliveira regressar da tumba.

No mesmo momento em que na televisão defendia a bondade do seu projecto, no que parece ter sido acompanhada por um cavalheiro do PPD infeliz candidato derrotado à câmara de Gaia (do que os munícipes desta simpática Vila Nova se livraram).

Depois de jurarem, como Goebels jurava nos bons tempos, que em nada a liberdade de informação é tocada, estes duas diligentes criaturas foram traídas pelos dirigentes já referidos.

Entretanto, jornais, rádios e televisões que raras vezes são capazes de se entender mesmo quanto ao seu desentendimento, já avisaram que não darão cobertura ao que eles, desta feita com razão, consideram um dirigismo digno da política de informação do antigo regime.

O mais extraordinário é que a imaginação de Medeiros e colegas até previa uma comissão (de censura?) mista onde cabiam dois órgãos absolutamente distintos, com fins distintos, recrutados em meios distintos ,excepção feita duma delirante teoria punitiva que multaria os pecadores em quantias que poderiam mesmo pôr em causa a existência atribulada da maioria dos jornais.

O que me surpreende é que a senhora Medeiros e o colega ppd (e o outro mais discreto do CDS) que deu a cara, não tendo idade para se lembrarem do que era isto há quarenta anos, tem entretanto os aninhos suficientes para poder estudar o que se passou, o que era a realidade nacional no 24 de Abril de 1974. Não que fossem crescidinhos os suficiente para demonstrarem na rua a sua ilimitada fé na democracia. E está até por provar alguma eventual condenação aos princípios informativos do Estado Novo. Mas suponha-se que ela e eles são verdadeiros apóstolos da mais pura democracia, da mais lídima da mais abnegada. Onde é que as criaturas foram buscar estas ideias tão constrangentes e, sobretudo, tão idiotas? Em principio, deveríamos estar perante pessoas com um mínimo de inteligência e quanto baste de bom senso. Como é que entenderam que esta tratantada passaria não só pelo crivo dos cidadãos comuns mas também pelo dos meios de comunicação?

De que país mental vieram? Que confiança poderemos nós ter na razoabilidade das suas futuras decisões mesmo sabendo que não decidem sozinhos? Alguns comentadores advertem que esta chorrada de asneiras não pode apenas ser imputada a este trio e apontam o dedo justiceiro aos três partidos do “arco da governação”. Não sendo isto uma certeza (Portugal é fértil em prodígios deste tipo) é pelo menos uma hipótese. Claro que os excluídos (PCP e arredores melodramáticos) não primam pela boa vontade em relação aos media. Nunca primaram historicamente, nunca fizeram da liberdade de opinião cidadã ou informativa (especialmente desta, convenhamos) uma pedra de toque da sua fidelidade ao que consideram liberdade. Para quem tem alguma dúvida bastará lembrar a cinzenta imprensa que vegetava amortalhada na verdade oficial desde o Pravda até ao Gramma, passando pelo Renmin Ribao. Isto sem falar nos inúmeros jornais que floresceram depois do 25 de Abril e que apenas veiculavam as palavras de ordem e a verdade a que (sem brincar) alguém “tinha direito”.

Em Portugal, o poder mostrou-se sempre incomodado com os jornais. Proibiam-se desde os saudosos tempos do Senhor D Miguel os que se atreviam a duvidar. A monarquia liberal teve os seus momentos de zanga mas depois a 1ª República levou a coisa a limites insuspeitos. Não mandava às redacções um cabo de esquadra mas soltava contra os jornais adversos mas usava um estratagema mais simples e mais eficaz: atiçava contra os adversários multidões ululantes de “formiga branca” que assaltavam os jornais, espancavam os jornalistas e “empastelavam” os tipos.

Mais eficaz e menos ruidoso, o dr Salazar criou um sistema de censura prévia que prevenia silenciosamente os atropelos à verdade a que, naqueles tempos, se tinha direito. E já agora proibiu a artimanha de deixar na página corrida partes em branco como até então se fizera. Desde modo a censura ficou ainda mais velada e discreta.

Todavia, os nossos três mosqueteiros fazendo tábua rasa dessa longa história, entenderam criar um simples mecanismo que condicionaria os media a uma espécie de roteiro previamente anunciado e autorizado que produziria não notícias mas tão só uma espécie de caldeirada eleitoral sensaborona porque previamente conhecida e cozinhada que não poderia variar sob pena de multa gorda e justiceira. Tudo isto apenas em épocas (pré e) eleitorais. Para já! Depois, com o andar da carruagem,

logo se veria...

Porém, há mais alguma coisa que me surpreende: eu, se fosse tão violenta e feiamente desmentido pelo meu partido, depois de ter dado a cara por algo que me encomendaram, ó seria capaz de uma atitude: mandar aquela ingrata gente, à mãezinha que a pôs, bater a porta e sair sem sequer cuidar de fechar a luz.

Demitiram-se estes três mãe e pais da pátria? Mostraram pelo menos a sua indignação por se verem de repente nus no meio da praça pública, desapoiados e sozinhos?

Ouviu-se-lhes pelo menos um grito, um gemido mesmo débil, uma ténue censura?

Nada!

Continuam nos seus postos como se aquilo não fosse com eles. Assobiam para o lado como não se dessem por achados.

Isto diz muito sobre esta gente. Demais!

 

 

publicado por d'oliveira às 12:07
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