Enquanto é possível
mcr, 3 -12-21
eu não percebo nada, rigorosamente nada, de saúde, muito menos dessa bicheza horrenda que no anda a desassossegar. Todavia, a idade, alguma experiência e outro tanto de desconfiança nos poderes públicos, fazem-me antecipar a visita natalícia à Mãe centenária mas arguta.
Pelo sim pelo não é já este fim de semana que avanço até às paragens eventualmente mais clementes (meteorologicamente falando) de Oeiras.
Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e eu bem me lembro do natal passado e não estou para arriscar.
De longada até Lisboa, visita breve à feira dos alfarrabistas, beijinhos e abraços à família e até Janeiro, esperando que tudo corra pelo melhor até lá.
O leitor JMM com quem havia uma vaga combinação de encontro, vai estar atento ao correio da próxima semana porquanto o livrinho que eu lhe levaria em mão seguirá aos inseguros cuidados dos CTT.
Eu nessa gente não me fio. Perdeu-se uma encomenda vinda de França (livros, claro...) e apesar das minhas reclamações, nada. Inventaram primeiro uma entrega a uma “elisabete” (sic) depois a outra com menos letras e com a pandemia a coisa desapareceu do radar. Portanto, o livro com todas as estampas da Enciclopédia ira registado. À cautela, e à boleia do blog, recomendo que me envie de novo a direcção pois comigo nunca é garantido que eu tenha a direcção à mão. Costumo guardar tão bem as coisas que depois só por abençoado acaso as encontro!
E já que abusei da paciência dos leitores ao enviar correspondência privada por este meio, aproveito a deixa para tentar saber se um segundo leitor, interessado em bibliografia de temática moçambicana ronda por aí. É que tenho um forte lote de boletins da Sociedade de Estudos de Moçambique para lhe dar em troca de um mirífico 1º volume da História dos Caminhos de Ferro de Moçambique (para o que me havia de dar!...) . Também, neste caso, terei perdido o mail desse leitor
Na gigantesca e quase impossível tarefa de reorganizar a minha biblioteca, dar destino a livros repetidos, arranjar espaço para outros recentes u agora mais interessantes, tenho descoberto títulos de que, de todo, não me lembrava ou que considerava desaparecidos. Neste último caso, suspeito que alguma empregada no afã descabido de arrumar, limpar ou tornar mais agradável a vista das estantes,os terá colocado noutro sítio. Numa biblioteca organizada por tipo de literatura, ou autor e ordem alfabética basta mudar um livro de sítio para se passarem anos sem o encontrar. De outros igualmente desaparecidos sem dar cavaco nem vale a pena falar: empréstimos a criaturas distraídas ou, pior, amigas do alheio, e eis que uma obra deixa de estar presente.
Também é verdade, neste ultimo caso que, um grande e desaparecido amigo tinha por hábito levar ( e restituir) montes de livros. Era, porém, alguém de seu natural desarrumado e a mulher ou a empregada passavam a vida a arrumar-lhe os pertences espalhados ao Deus dará. Alguns dos meus livrinhos andaram assim clandestinos nas estantes desse querido companheiro de bridge desde Coimbra. Depois de morto, e durante alguns anos, a viúva aparecia com ar contristado com mais um livro encontrado. Ao todo ter-me-á entregue dez ou onze. Era o regresso do filho pródigo e permitia-nos a mim e à viúva conversar largas horas, chorar um pouco aquele alucinado leitor morto num ano (o pior de que me lembro)em que perdi mais dois outros íntimos amigos.
À medida em que se envelhece tornam-se naturais estes desaparecimentos. Às tantas, olhando-nos ao espelho apercebemo-nos que somos meros sobreviventes, passeantes solitários num mundo que começa a tornar-se estranho e menos amável.
E a verificar a terrível verdade dos enterros: “agora só nos encontramos nestas ocasiões”,
costuma-se dizer. E, raios me partam, é verdade.
Entretanto, amigos a quem prometi entregar livros, estejam descansados que estes a que me referi tenho a firme intenção de cumprir a minha promessa...
*a vinheta: imagem mandada pela Maria A, amiga de quem sou eternamente devedor
. o leitor (im)penitente 22...
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. o leitor (im)penitente 20...