Sowinds, o esbofeteiro azougado
Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?
Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.
Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.
Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.
Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...
Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”
Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.
Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.
Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.
Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.
Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).
Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.
Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!
Sowinds, o esbofeteiro azougado
Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?
Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.
Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.
Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.
Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...
Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”
Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.
Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.
Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.
Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.
Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).
Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.
Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!
Os amigos de Angola
Angola ou, melhor dizendo, a sua cleptocrática classe dirigente tem amigos à fartazana: ainda há dias um inócuo protesto contra o julgamento de Luati & camaradas presos, morreu na praia do parlamento pelos votos contra da Direita e da Esquerda.
Parece, diziam uns, que tal voto tornaria difícil a vida dos trabalhadores portugueses lá expatriados bem como a das empresas nacionais que lá operam. Outros atinham-se à profunda amizade e camaradagem que os liga ao “revolucionário” MPLA de extinta e pouco saudosa memória.
No meio disto tudo um só naufrágio: a vaga e perdida ideia de que os nossos políticos defendem os Direitos Humanos onde que que seja. Sinais desta torpe situação desde sempre os tivemos: o inenarrável regime venezuelano tem cá apostados defensores (mesmo que não tenham – como corre – apoios financeiros aos respectivos partidos; a insistente presença da Coreia do Norte nas festas do Avante como se naquele país esfomeado corressem os bíblicos leite e mel.
Nunca ninguém, ou melhor: nunca ninguém com responsabilidades políticas se atreveu a questionar a imensa fortuna da senhora Isabel dos Santos (por acaso filha do presidente perpétuo de Angola, José Eduardo dos Santos) ou as outras imensas fortunas dos ministros, ex-ministros, generais, membros influentes do partido quase único (ou até único no que toca à tomada de decisão política) que gere desde sempre com mão de ferro o país.
Angola, para boa parte dos nossos media, é intocável. Durante algum tempo, ainda pensei que a coisa tinha a ver com os remorsos da colonização. Em Portugal temos sempre imensa vergonha do nosso passado sobretudo porque com uma fatal e atrevida ignorância o vemos sempre com os olhos do presente.
Lembro-me sempre do dr Mário Soares a pedir desculpa por um pogrom ocorrido em Lisboa por alturas do reinado de D Manuel. Em breves palavras a história é a seguinte: dois inflamados frades lembraram-se de afirmar que um cristão novo teria tentado profanar ou simplesmente teria duvidado de um milagre ocorrido no Convento de S Domingos. À conta disso uma multidão exaltada percorreu as ruas e chacinou enre duzentos e quatro mil judeus, cristãos novos ou simples pessoas que os tentaram defender. Ao saber disto, o rei ausente no Alentejo mandou juízes À cidade e castigou com exemplar severidade os amotinados (houve várias condenações à morte) e privou os procuradores da cidade de vários e antigos direitos políticos. O próprio convento e a sua congregação sentiram a mão pesado do Rei e se bem recordo o convento chegou a estar encerrado. Ou seja: a um incontrolado movimento de uma população ignorante, estúpida e fanatizada correspondeu um castigo juridicamente tutelado que só honra quem governava. É o gesto do rei que representa de jure a Nação Portuguesa e não o desvario de um bando de arruaceiros cheios de vinho e de ódio.
Todavia, com a melhor das intenções mas desapoiado de um mínimo de conhecimento histórico, o dr Mário Soares entendeu cobrir a cabeça de cinza e penitenciar-se por algo ocorrido vários séculos antes como se os portugueses da segunda metade do século XX herdassem os costumes, o fanatismo e as ideias do ano de 1504!!! É obra!
Voltando às nossas devoções: também agora, em pleno sec. XXI, ao falar de Angola, vem-nos à pobre (des)memória a colonização, a escravatura, a ocupação de Angola (sobretudo entre o quarto final do sec.XIX e o quartel inicial do séc. XX que foi quando de facto se construiu a actual Angola) e desse cocktail mal digerido vem a ideia peregrina de que tudo se deve perdoar aos actuais e angélicos ricos dirigentes de Angola.
Lamento muito: não somos responsáveis de perto ou de longe pela actual situação angolana. Não somos responsáveis pela medonha guerra civil que teve mais mortos do que toda a façanhuda ocupação portugusea; não somos responsáveis pela repressão das gentes de Nito Alves que terá custado mais de 30.000 vítimas. Não somos responsáveis pelos delírios do dr Agostinho Neto, pela poesia admirável do dr Jonas Savimbi (mimosamente editado pelo seu incondicional admirador e editor, sr. João Soares. Não somos responsáveis (mesmo se o toleramos e dele nos aproveitamos) do súbito enriquecimento da srª Isabel dos Santos e restantes colegas.
(Convém, no entanto, anotar que quando entre as esferas do actual poder se põe a hipótese de “arrenegar” da banca espanhola para, em vez dela, pôr tal senhora ao leme de bancos portugueses, não parece descabido lembrar que tal operação mais parece uma tentativa de legitimar uma lavagem de dinheiro do que outra coisa menos tristonha. E, pior: manter a nossa banca em mãos tão estranhas quanto ávidas. Ou ainda: trocar de donos mas não de coleira!).
Angola, pede ajuda ao FMI. Ainda estou por perceber por que é que os prestimosos PCP e BE sempre prontos a denunciar os malefícios do capitalismo não propõesm aos seus amigos de Lunda a nacionalização imediata dos bens da extremosa filha do Presidente edos restantes cavalheiros que escandalosamente se apresentam com gigantescas fortunas.
Não é a baixa cotação do petróleo que avaria o sistema angolano. É o roubo e a corrupção generalizados e bem patentes que atiram o país para o fundo. É a falta de direitos elementares; é o desprezo por noventa por cento da população que vive miseravelmente; é a cumplicidade que vários governos mantêm com os senhores de Angola e o tolerar inacreditável com os editoriais do jornal oficial de Angola que, ao menor pretexto, ladra contra adversários de dentro ou de fora; é a incapacidade de uma classe dirigente para gerir decentemente um país. Angola estende a mão ao FMI. Vejamos se este se comporta com ela com um rigor pelo menos idêntico ao que usa com outros países em dificuldades.
Mesmo se, como julgo, só uma revolução a sério, possa eventualmente salvar Angola.
na gavura: mácara tu-tschokué (Lunda)
. o leitor (im)penitente 22...
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. o leitor (im)penitente 20...