Vai ser um fartote!
As leitoras (e os leitores, claro) que me desculpem: isto, ou seja a campanha que se aproxima, vai ser pior ainda do que a que passou. E vai por várias razões todas de peso. A Direita quer ver restabelecida nas urnas a sua vantagem relativa que, no caso, poderá até mostrar-se absoluta, depois da garraiada que se suscitou com o significado da votação popular.
A esquerda parte tão dividida como sempre ou até mais. Por um lado Maria de Belém Roseira, Henrique Neto e uma outra criatura subitamente aparecida, disputam o voto socialista e adjacente. O PCP, cumprindo uma tradição antiga surpreende ao apresentar um padre “defroqué” (a denominação vem dos tempos perturbados da Revolução Francesa e aplica-se aqui inteiramente) que esbraceja mais do que um moinho de vento em dia de tempestade. Lá iremos. O Bloco apresenta uma senhora que nos últimos anos tem sido deputada europeia (uma das vezes com o meu pobre voto) e que tem como actividade mais interessante uma longa carreira na luta contra a doença de Alzheimer (coisa que pessoalmente lhe agradeço profundamente quanto mais não fosse por ter um parente muito querido atingido por essa doença). Fora isso Marisa Matias é professora no CES e foi relatora de temas importantes no Parlamento Europeu.
Depois há uns quantos “espontâneos”, seguramente meritórios mas que dificilmente se farão ouvir ou sequer dar-se a conhecer. A corrida vai ser portanto entre Marcelo, Belém, Nóvoa, Neto, Marisa e o reverendo Edgar. Neste mano a mano a seis, o combate é Marcelo contra todos.
Todavia, convirá apontar que o candidato do PC tem trazido para a soturna luz do dia, um rosário de críticas ao PS que mostram bem o “estado da união” governativa. Aliás, ao que tenho visto, o PS e Marcelo são as únicas vítimas dos sermões do ex-paróco da Madeira. Ele (e os seus camaradas) lá sabe porquê e para quê. Edgar significa lanceiro que defende a sua terra e tem um santo com esse nome. Trata-se de um antigo rei proto-inglês que reinou no Wessex e se chegou a intitular “imperador de Albion”.
Este Edgar madeirense vai usando do chuço para derrear os lombos socialistas e, obviamente, Marcelo. Fora isso é um anónimo membro do CC do PC que nunca perde uma oportunidade de oiro como esta. Um padre mesmo despadrado no Comité central é uma bênção.
Maria de Belém a quem cheguei a dar o meu apoio (que retirei depois do pacto de Cacilhas estabelecido com o senhor Nóvoa) tem uma carreia toda ela na política depois de uns anos na Segurança Social. Sabe do que fala, é católica, tem um longo conhecimento nas áreas em que trabalhou, saúde, segurança social direitos da mulher, e é notoriamente inteligente. Por razões estapafúrdias, Costa prefere-lhe o subitamente nascido para a política Nóvoa, criatura que se perfilou em primeiro lugar conseguindo o surpreendente apoio de três ex-presidentes, vá lá saber-se por que misteriosas razões. A biografia que recentemente lhe dedicaram merecia a leitura de Eça de Queirós tão extraordinariamente ridícula que é. As vezes em que penosamente tive de o ouvir mostraram-me a vacuidade da criatura, o desconhecimento da política e pior do papel de Presidente da República. Não cometerei a desfeita de, como já corre, lhe chamar Sampaio da Nódoa mas convenho que o homem é pior do que as primeiras impressões. Que haja cerca de 10% de portugueses que eventualmente o apoiam mostram bem o estado a que isto chegou. Henrique Neto tem passado político e profissional. Foi do PC quando isso era um risco e um acto de coragem, trabalhou duramente para criar uma fábrica modelar, foi deputado do PS capaz de dizer, no plenário e fora dele, verdades que arrasavam amigos e inimigos, tem ideias claras sobre economia. Sobretudo, ninguém o pode acusar de ter vivido à custa do erário público, bem pelo contrário: criou riqueza, empregos e pôs o país na linha da frente da indústria de moldes. Terá o meu voto.
Finalmente Marcelo.
Ninguém de bom senso nega a este professor catedrático de Direito inteligência e desenvoltura. Também ninguém desconhece o feitio traquinas e a mania das habilidades que o fizeram famoso dentro e fora do PPD. Criador de factos políticos e jornalista astuto e convincente, a sua história está ligada à ala social democrata do partido ou, até e melhor, à sua ala democrata cristã. Marcelo é um católico assumido, tem fama de pessoa despojada: não possui casa nem carro (?), viveu sempre do seu trabalho de professor e sobretudo do chorudo ordenado que a televisão privada lhe pagou pela tarefa de comentador político (tal como Pacheco Pereira, por exemplo) que levou a cabo com grande eficiência e notável clareza de exposição: o “professor” conseguia explicar as coisas mais complicadas com simplicidade, algum humor e uma enorme empatia com o público. Só isso merecia ser muito bem pago. Nunca teve, nem terá (salvo se Jesus descer à terra) o meu voto mas também é verdade que não precisa dele. Há pouco mais de dois anos, apostei contra quatro amigos uma almoçarada de lampreia –vejam bem o risco!- que ele ganharia as eleições e apostei o preço do vinho que seria à primeira volta. Encargo pesado que assumi sem estados de alma. Uma coisa é não gostarmos da pessoa, outra é entrar em estado de negação.
Graças à tola campanha de todos contra Marcelo, este cada vez mais se evidencia e ganha apoio. Se alguém o não conhecia passou a conhecê-lo. Depois, queira ou não, o esforçado Rui Tavares comentador do “Público”, a campanha barata de Marcelo fez mossa nas outras. Se é verdade que não precisa de se apresentar, não menos verdade é que Belém Roseira ou Marisa Matias gozaram pelo facto de serem personalidades públicas de uma intensa pré-pré campanha nos media enquanto Sampaio da Nóvoa justamente porque era novidade teve idêntica sorte. No caso dele, o excepcional e surpreendente apoio de Eanes, Soares e Sampaio, expresso há meses foi igualmente importante. No que toca ao candidato comunista, ser ou não conhecido é igual ao litro. O homem terá, se for às urnas, o voto unânime, ou quase, dos simpatizantes comunistas. Se estes candidatassem o lince da Malcata o resultado era o mesmo. A virtude ou defeito do eleitorado comunista é que este vota como lhe indica o partido. Sem ilusões nem estados de ânimo. (“Assim se vê a força do pc!”).
Até ao momento, os candidatos tem opinado sobre tudo ou quase. Sempre com uma correcção política que dói! E, até nesse capítulo, Marcelo sobressai: na sua calculada estratégia de mostrar independência, até consegue dar a mão a Costa. Para melhor a apertar duramente depois? É possível mas basta ver o comentário de desagrado de alguma Direita, para perceber que, ao contrário dos outros candidatos, Marcelo doseia elogios e críticas como nos seus melhores tempos de televisão. E com uma outra vantagem: não responde às críticas dos restantes concorrentes, coisa que os deve enfurecer mas que faz o público sorrir e repara neste católico que quase oferece a outra face.
É evidente que tudo isto é uma calculada e longamente meditada actuação que poderá encobrir uma fúria interior prodigiosa. De todo o modo, para quem assiste ao despique, também isto corre de feição para o candidato Marcelo.
Convirá, porém, realçar que nestas últimas semanas, os candidatos de motu próprio ou por desafio de entrevistadores analfabetos, têm falado de tudo sobretudo, até, de assuntos que nada têm a ver com o cargo que irão disputar. Dir-se-á que os eleitores querem conhecê-los melhor. No entanto, conhecer melhor não é saber pela rama o que pensam suas futuras excelências sobre a questão da queda dos preços da carne de porco ou sobre a falta de médicos ao fim de semana no hospital de S José. Neste caso, aliás, não vi uma única criatura perguntar se a doença em apreço é rara ou não, se o pagamento proposto aos médicos era decente ou não (fala-se de 3 euros à hora...) ou porque razão em Coimbra e no Porto não ocorreram casos fatais visto haver médicos especialistas nessas escalas. Sendo assim, falar na degradação do SNS é uma imbecilidade medonha: o que, eventualmente, se passará é apenas uma miserável falta de organização que deve apenas responsabilizar a administração do hospital ou a ARS de Lisboa cujos responsáveis de resto se demitiram. Por outras palavras: estas mortes foram instrumentalizadas politicamente e nenhuma das respostas adrede manifestadas toca o problema de fundo. Portugal, ao contrário do que algum tolo dirá, tem um extraordinário sistema nacional de saúde e estará num dos dez melhores lugares do mundo. Pode melhorar? Claro que sim e sobretudo em campos que irão exigir fortíssimos investimentos. A questão é saber se se deve realizar tal esforço ou se não é mais eficaz e muitíssimo menos oneroso para a fraca bolsa dos parcos contribuintes portugueses criar acordos internacionais que permitam aos pacientes portugueses (que serão relativamente escassos) recorrer a serviços hospitalares estrangeiros onde o rácio habitante/serviço de saúde permite abordar a situação com êxito e menor preço. Afinal, estamos ou não na União Europeia?
Era sobre questões deste teor que convinha (também) ouvir os senhores “presidenciáveis”. Ou seja: onde estamos? Como estamos? Para onde vamos?
Estamos a dois dias do fim do ano. Eis um voto para o próximo: mais verdade. Mais rigor! Menos conversa de chacha! Mais exigência. Mudar de vida! Mudar a vida!
Afinal são seis os meus pedidos e pelo menos dois deles bebidos directamente no surrealismo que foi uma coisa muito séria e uma aventura que há cem anos presenciávamos de longe, mesmo que, por cá, tivesse havido um meteoro chamado “Orpheu”. Mas isso era “futurismo” e o que por cá actualmente se passa é passado, demasiado passado.
Bom ano!
Vai ser um fartote!
As leitoras (e os leitores, claro) que me desculpem: isto, ou seja a campanha que se aproxima, vai ser pior ainda do que a que passou. E vai por várias razões todas de peso. A Direita quer ver restabelecida nas urnas a sua vantagem relativa que, no caso, poderá até mostrar-se absoluta, depois da garraiada que se suscitou com o significado da votação popular.
A esquerda parte tão dividida como sempre ou até mais. Por um lado Maria de Belém Roseira, Henrique Neto e uma outra criatura subitamente aparecida, disputam o voto socialista e adjacente. O PCP, cumprindo uma tradição antiga surpreende ao apresentar um padre “defroqué” (a denominação vem dos tempos perturbados da Revolução Francesa e aplica-se aqui inteiramente) que esbraceja mais do que um moinho de vento em dia de tempestade. Lá iremos. O Bloco apresenta uma senhora que nos últimos anos tem sido deputada europeia (uma das vezes com o meu pobre voto) e que tem como actividade mais interessante uma longa carreira na luta contra a doença de Alzheimer (coisa que pessoalmente lhe agradeço profundamente quanto mais não fosse por ter um parente muito querido atingido por essa doença). Fora isso Marisa Matias é professora no CES e foi relatora de temas importantes no Parlamento Europeu.
Depois há uns quantos “espontâneos”, seguramente meritórios mas que dificilmente se farão ouvir ou sequer dar-se a conhecer. A corrida vai ser portanto entre Marcelo, Belém, Nóvoa, Neto, Marisa e o reverendo Edgar. Neste mano a mano a seis, o combate é Marcelo contra todos.
Todavia, convirá apontar que o candidato do PC tem trazido para a soturna luz do dia, um rosário de críticas ao PS que mostram bem o “estado da união” governativa. Aliás, ao que tenho visto, o PS e Marcelo são as únicas vítimas dos sermões do ex-paróco da Madeira. Ele (e os seus camaradas) lá sabe porquê e para quê. Edgar significa lanceiro que defende a sua terra e tem um santo com esse nome. Trata-se de um antigo rei proto-inglês que reinou no Wessex e se chegou a intitular “imperador de Albion”.
Este Edgar madeirense vai usando do chuço para derrear os lombos socialistas e, obviamente, Marcelo. Fora isso é um anónimo membro do CC do PC que nunca perde uma oportunidade de oiro como esta. Um padre mesmo despadrado no Comité central é uma bênção.
Maria de Belém a quem cheguei a dar o meu apoio (que retirei depois do pacto de Cacilhas estabelecido com o senhor Nóvoa) tem uma carreia toda ela na política depois de uns anos na Segurança Social. Sabe do que fala, é católica, tem um longo conhecimento nas áreas em que trabalhou, saúde, segurança social direitos da mulher, e é notoriamente inteligente. Por razões estapafúrdias, Costa prefere-lhe o subitamente nascido para a política Nóvoa, criatura que se perfilou em primeiro lugar conseguindo o surpreendente apoio de três ex-presidentes, vá lá saber-se por que misteriosas razões. A biografia que recentemente lhe dedicaram merecia a leitura de Eça de Queirós tão extraordinariamente ridícula que é. As vezes em que penosamente tive de o ouvir mostraram-me a vacuidade da criatura, o desconhecimento da política e pior do papel de Presidente da República. Não cometerei a desfeita de, como já corre, lhe chamar Sampaio da Nódoa mas convenho que o homem é pior do que as primeiras impressões. Que haja cerca de 10% de portugueses que eventualmente o apoiam mostram bem o estado a que isto chegou. Henrique Neto tem passado político e profissional. Foi do PC quando isso era um risco e um acto de coragem, trabalhou duramente para criar uma fábrica modelar, foi deputado do PS capaz de dizer, no plenário e fora dele, verdades que arrasavam amigos e inimigos, tem ideias claras sobre economia. Sobretudo, ninguém o pode acusar de ter vivido à custa do erário público, bem pelo contrário: criou riqueza, empregos e pôs o país na linha da frente da indústria de moldes. Terá o meu voto.
Finalmente Marcelo.
Ninguém de bom senso nega a este professor catedrático de Direito inteligência e desenvoltura. Também ninguém desconhece o feitio traquinas e a mania das habilidades que o fizeram famoso dentro e fora do PPD. Criador de factos políticos e jornalista astuto e convincente, a sua história está ligada à ala social democrata do partido ou, até e melhor, à sua ala democrata cristã. Marcelo é um católico assumido, tem fama de pessoa despojada: não possui casa nem carro (?), viveu sempre do seu trabalho de professor e sobretudo do chorudo ordenado que a televisão privada lhe pagou pela tarefa de comentador político (tal como Pacheco Pereira, por exemplo) que levou a cabo com grande eficiência e notável clareza de exposição: o “professor” conseguia explicar as coisas mais complicadas com simplicidade, algum humor e uma enorme empatia com o público. Só isso merecia ser muito bem pago. Nunca teve, nem terá (salvo se Jesus descer à terra) o meu voto mas também é verdade que não precisa dele. Há pouco mais de dois anos, apostei contra quatro amigos uma almoçarada de lampreia –vejam bem o risco!- que ele ganharia as eleições e apostei o preço do vinho que seria à primeira volta. Encargo pesado que assumi sem estados de alma. Uma coisa é não gostarmos da pessoa, outra é entrar em estado de negação.
Graças à tola campanha de todos contra Marcelo, este cada vez mais se evidencia e ganha apoio. Se alguém o não conhecia passou a conhecê-lo. Depois, queira ou não, o esforçado Rui Tavares comentador do “Público”, a campanha barata de Marcelo fez mossa nas outras. Se é verdade que não precisa de se apresentar, não menos verdade é que Belém Roseira ou Marisa Matias gozaram pelo facto de serem personalidades públicas de uma intensa pré-pré campanha nos media enquanto Sampaio da Nóvoa justamente porque era novidade teve idêntica sorte. No caso dele, o excepcional e surpreendente apoio de Eanes, Soares e Sampaio, expresso há meses foi igualmente importante. No que toca ao candidato comunista, ser ou não conhecido é igual ao litro. O homem terá, se for às urnas, o voto unânime, ou quase, dos simpatizantes comunistas. Se estes candidatassem o lince da Malcata o resultado era o mesmo. A virtude ou defeito do eleitorado comunista é que este vota como lhe indica o partido. Sem ilusões nem estados de ânimo. (“Assim se vê a força do pc!”).
Até ao momento, os candidatos tem opinado sobre tudo ou quase. Sempre com uma correcção política que dói! E, até nesse capítulo, Marcelo sobressai: na sua calculada estratégia de mostrar independência, até consegue dar a mão a Costa. Para melhor a apertar duramente depois? É possível mas basta ver o comentário de desagrado de alguma Direita, para perceber que, ao contrário dos outros candidatos, Marcelo doseia elogios e críticas como nos seus melhores tempos de televisão. E com uma outra vantagem: não responde às críticas dos restantes concorrentes, coisa que os deve enfurecer mas que faz o público sorrir e repara neste católico que quase oferece a outra face.
É evidente que tudo isto é uma calculada e longamente meditada actuação que poderá encobrir uma fúria interior prodigiosa. De todo o modo, para quem assiste ao despique, também isto corre de feição para o candidato Marcelo.
Convirá, porém, realçar que nestas últimas semanas, os candidatos de motu próprio ou por desafio de entrevistadores analfabetos, têm falado de tudo sobretudo, até, de assuntos que nada têm a ver com o cargo que irão disputar. Dir-se-á que os eleitores querem conhecê-los melhor. No entanto, conhecer melhor não é saber pela rama o que pensam suas futuras excelências sobre a questão da queda dos preços da carne de porco ou sobre a falta de médicos ao fim de semana no hospital de S José. Neste caso, aliás, não vi uma única criatura perguntar se a doença em apreço é rara ou não, se o pagamento proposto aos médicos era decente ou não (fala-se de 3 euros à hora...) ou porque razão em Coimbra e no Porto não ocorreram casos fatais visto haver médicos especialistas nessas escalas. Sendo assim, falar na degradação do SNS é uma imbecilidade medonha: o que, eventualmente, se passará é apenas uma miserável falta de organização que deve apenas responsabilizar a administração do hospital ou a ARS de Lisboa cujos responsáveis de resto se demitiram. Por outras palavras: estas mortes foram instrumentalizadas politicamente e nenhuma das respostas adrede manifestadas toca o problema de fundo. Portugal, ao contrário do que algum tolo dirá, tem um extraordinário sistema nacional de saúde e estará num dos dez melhores lugares do mundo. Pode melhorar? Claro que sim e sobretudo em campos que irão exigir fortíssimos investimentos. A questão é saber se se deve realizar tal esforço ou se não é mais eficaz e muitíssimo menos oneroso para a fraca bolsa dos parcos contribuintes portugueses criar acordos internacionais que permitam aos pacientes portugueses (que serão relativamente escassos) recorrer a serviços hospitalares estrangeiros onde o rácio habitante/serviço de saúde permite abordar a situação com êxito e menor preço. Afinal, estamos ou não na União Europeia?
Era sobre questões deste teor que convinha (também) ouvir os senhores “presidenciáveis”. Ou seja: onde estamos? Como estamos? Para onde vamos?
Estamos a dois dias do fim do ano. Eis um voto para o próximo: mais verdade. Mais rigor! Menos conversa de chacha! Mais exigência. Mudar de vida! Mudar a vida!
Afinal são seis os meus pedidos e pelo menos dois deles bebidos directamente no surrealismo que foi uma coisa muito séria e uma aventura que há cem anos presenciávamos de longe, mesmo que, por cá, tivesse havido um meteoro chamado “Orpheu”. Mas isso era “futurismo” e o que por cá actualmente se passa é passado, demasiado passado.
Bom ano!
*a imagem é e uma obra de Matisse. Sem ele a arte modernaseria bem diferente e quase de certeza menos imaginativa, colorida e inteligente. Há cem anos era uma das maiores referências da pintura francesa e universal.
Quando o verniz estala
Os meus leitores sabem que não morro de amores pelo dr. Rui Rio.
Todavia, para espanto meu, ele governou a cidade com alguma isenção (e o arrufo com o PPD mostra-o claramente) e deixou-a melhor do que estava e muito menos endividada. Mesmo a longa querela que o opôs a certos meios culturais não foi toda em seu prejuízo nem, sequer, se provou a acusação que lhe fizeram de ser contra a “cultura”, sobretudo alguma que muitas vezes se traduzia na mais abjecta mediocridade.
Essencialmente o dr. Rio ficou conhecido (para além da sua proverbial teimosia) pelo conflito que manteve com o FC Porto a quem negou a varanda dos Paços do Concelho para celebrar os seus triunfos. Segundo o clube, havia uma tradição de ali terminar a carreira triunfal afirmada durante o último quartel do século XX.
Segundo Rio, uma coisa é futebol outra a Câmara Municipal e a dignidade das suas instalações. Um diálogo de surdos, como se vê e, por isso mesmo, um diálogo envenenado.
Pessoalmente, nunca dei razão a nenhum dos contrincantes e se, de certo modo, acho alguma laracha ao sr Pinto da Costa, também não me deixo encantar pelo seu humor grosseiro e, muito menos, pela lenda (ou verdade?) negra que o acompanha.
Pinto da Costa, irmão de um grande e falecido amigo meu desde os tempos de Coimbra, tem um estilo muito próprio e só se distingue dos seus colegas do sul (Benfica e Sporting) pela marcada pronúncia do Norte –que ele aliás exagera propositadamente – e pelo estilo que impôs à direcção do clube. Astuto, hábil, disciplinador, politicamente interventivo, vaidoso, Pinto da Costa não deixa de ser o que é: alguém que é capaz de manipular multidões clubísticas e que provavelmente já deveria ter descalçado as chuteiras. Infelizmente, criou o vazio à sua volta e agora mesmo em clara perda de vigor e de verve não sabe como retirar-se em glória.
Vamos, porém, ao que interessa: Rui Rio já não é presidente da Câmara e ainda não tem um destino político nacional. Falhou a candidatura a Presidente da República depois de verificar que não dispunha dos apoios necessários. É um cidadão tranquilo e lá vai intervindo em diversas iniciativas com maior ou menos fulgor mediático. Justamente, iria intervir na “conferência anual da SIC” a convite dos dirigentes da estação. Tal reunião fora marcada (suponho que há já bastante tempo) para um pavilhão do FC Porto e não se desconhecia quem participava.
Não sei se a cedência do pavilhão era a título gratuito ou oneroso. Sei, isso sim, que, como ocorre em todas as cedências, durante o tempo da reunião, a SIC estava na situação de inquilina e por isso mesmo juridicamente só ela poderia convidar ou impedir alguém de entrar.
Não consta que o FC Porto tivesse imposto qualquer condição especial mormente uma proibição de entrada a quem quer que fosse.
Ao proibir, in extremis, a presença de Rio, fica-se com a ideia de má fé e, sobretudo, de má educação, de rancor vincado e antigo e de vingança mesquinha. Ou, pior ainda, de chantagem pois qualquer pessoa sabe que é difícil mudar a sede de um evento de um dia para o outro.
Pelos vistos a SIC, que tem um poder bem maior do que o FC Porto, sobretudo quando não está à frente do campeonato, conseguiu rapidamente arranjar outro local tão ou mais nobre do que o pavilhão do FC Porto e Rio entrará naturalmente pela porta principal e terá uma reforçada atenção dos media. Até nesse campo a direcção portista sai derrotada.
O que surpreende (sobretudo as pessoas que têm uma alta ideia da inteligência - que não da urbanidade!...- de Pinto da Costa) é que se a conferencia se realizasse no primitivo lugar, sempre poderia o FC Porto afirmar alto, ou num silêncio ainda mais estrepitoso, que sabia dar uma bofetada de luva branca. Não sabe! É com ele.
Lamento muito mas o resultado desta farsa é Rio 1, FC Porto 0.
Não havia necessidade...
(escrito por mcr adepto da Associação Naval 1º de Maio)
. o leitor (im)penitente 22...
. ...
. o leitor (im)penitente 20...