Quarta-feira, 5 de Agosto de 2015

Estes dias que passam 333

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O “herói” da Selva

As leitoras e leitores que me aturam (e com isso ganham o reino dos céus, os jardins do Profeta e o Valhala, tudo junto) hão-de ter tido notícia de um parvajola americano, dentista de profissão e exterminador de feras em grosso. É como o “Raid”: mata que se farta.

A triste criatura, alem do dinheiro que deve ter, obriga-se a caçar com arco e flecha, dando assim a entender que ele mesmo e o que lhe habita o crânio regrediu no tempo até épocas bem primitivas.

Caçar grandes animais (os cinco grandes: leão, leopardo, elefante, rinoceronte e mais outro que não me ocorre –tigre, hipopótamo, búfalo? - parece ser o must destas bestiagas que fazem da morte um desporto.

Coragem é que não lhes sobra. Estas criaturas mal pisam o solo antigo e belo de África, besuntam-se com uma meia dúzia de produtos contra os mosquitos, vão prevenidos com mil e uma vacinas, rodeiam-se de um regimento de criados, portadores, cozinheiro, pisteiros e, claro dois ou três experimentados caçadores profissionais. armados estes de autênticas espingardas de grande calibre.

À cautela levam toda esta comandita não vá o animal encurralado fazer frente à flecha e com uma patada mandar o verdugo injusticeiro para a puta que o pariu.

Este tipo de bardamerdas não pratica um desporto, sequer uma aproximação: são magarefes a matar bichos indefesos. Quando não acertam, ou acertam mal, lá vai o caçador profissional atrás do animal ferido para acabar com ele a tiro.

Estes anormais da caça não conhecem o terreno, nem precisam. Não correm outra aventura que não seja a picada de uma tsé-tsé (Deus as abençoe), de alguma vespa mal humorada ou de outra bicheza pequena e vingadora que, em lhe cheirando carne de branco burro e sem vergonha, logo lhe acode um frémito de alegria. Aquilo, o branquelas imbecil, é carne de primeira, da melhor, da importada. E vai daí pica o herói que se julga Tarzan, rei da selva e dos macacos.

A crónica deste arrancador de dentes é, aliás, ainda pior. Para matar um leão que, de tanto ver turistas, nem desconfiava deles, foi preciso atraí-lo para fora da reserva, usando uma carripana que arrastava carne morta e depois, bem enquadrado o bicho e bem defendido o matador, foi só despedir a flecha.

A criatura que, agora, anda escafedendo-se por parte incerta, já mandou uns amigalhaços afirmar que ele, o cobarde assassino, é bom homem (vê-se) e que foi enganado pela gentinha que contratou e a quem pagou. Está-se mesmo a ver. O palerma “não sabia nada do leão Cecil”, confiou nos sus apaniguados como se estes não soubessem o que estavam a fazer. É inacreditável que profissionais experimentados fossem logo propor aquele leão, num pais onde estes felinos abundam! Não tenho quaisquer dúvidas que o arranca-dentes sabia perfeitamente que aquele leão, famoso, com direito a nome próprio era um alvo fora de série. E pagou forte e feio para o liquidar. (e os outros ao cheiro da dinheirama, num pais em que a moeda local não vale sequer o papel em que é impressa -há algum tempo foi emitida uma nota de cem milhões de dólares zimbabueanos que de pouco ou nada servia – nem olharam para trás).

Estes assassinos de meia tigela são todos iguais: o cabrão que incendiou o templo de Artémis acreditava que com isso o seu nome nunca mais seria esquecido (aqui é-o, não cito estrume nem para mostrar conhecimentos). O assassino de John Lennon não tinha outra ideia naquela cabeça grotesca. E por aí fora.  

Este tira-dentes americano não é diferente nem na essência nem nos actos. É um pobre diabo estúpido e de maus instintos a quem sobra tanto dinheiro quanto lhe falta de inteligência e dignidade.

O Zimbabué, país cujo Governo se não recomenda a ninguém, sobressaltou-se. E pediu, ao abrigo de uma convenção existente com os EUA, a extradição do malfeitor. Espero ardentemente que consiga tal objectivo e que possa julgar o heróico arqueiro. E, se não for pedir muito, que o condene a uns tempos de prisão naquilo que, ao que sei, deve ser uma antecipação dolorosa da fossa comum. Ou então que o soltem com o seu armamento no meio de uma zona de leões esfomeados. Ou de hienas, que vem a dar no mesmo...

 

* ainda nem tinha começado a preparar a publicação deste folhetim eis que a internet me informa que o dentista tem uma alma gémea do sexo feminino que se fotografa junto a espécies bem menos perigosas mas igualmenteabatidas. Desta feita foi uma girafa a vítima. Qual será a glória de abater uma girafa? 

publicado por d'oliveira às 11:11
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